[Entrevista Exclusiva] Aline Valek
A Aline é a autora do livros As Águas-Vivas Não Sabem de Si, um livro que amei do começo ao fim! Entrei em contato pelo blog dela e fiquei encantada com a simplicidade e simpatia dessa brasiliense. Aline logo me retornou e responder todas as minhas perguntas. Se você ainda não conhece a autora, essa é sua chance!
1- Quem é Aline Valek? Fale um pouco de você.
Basicamente, sou feita de água. Um pedaço de água consciente que por acaso escreve, ilustra e conta histórias. Mas fora o básico e o óbvio, acho que é relevante saber que meu nome se pronuncia Válek, já tive um podcast sobre feminismo e cultura pop, prefiro café sem açúcar, já trabalhei com publicidade e tenho um texto do Douglas Adams tatuado na perna.
2- De onde veio a inspiração para escrever um livro no fundo do mar?
Quando criança, eu imaginava que no futuro seria bióloga marinha – é, isso não rolou. Mas o interesse e a curiosidade pela ciência continuaram comigo, assim como a inquietante pulguinha atrás da orelha que passou a me acompanhar quando descobri que 95% do nosso oceano é inexplorado. Olha a dimensão disso: vivemos em um planeta em sua maior parte constituído de mares e praticamente desconhecemos o que existe ali. Chega a ser assustador. Mas, ao mesmo tempo, era algo fantástico: eu tinha um mundo inteiro para explorar e resolvi mergulhar nele.
3- O que te fez perceber que o livro estava pronto? Mostrou seus progressos para alguém?
Picasso, parafraseando Paul Valéry, dizia que uma obra de arte nunca se termina, apenas se abandona. Sempre há o que mudar e melhorar. E no processo de um livro, é algo que não se faz sozinha. Há editores, revisores e preparadores de texto para ajudar o autor a deixar o livro “pronto”. Além disso, tem o leitor. Sempre digo que uma história só está pronta quando chega às mãos de alguém, que vai poder completá-la com sua própria imaginação. Mas antes de chegar a esse ponto, sim, mostrei as primeiras versões e estudos para amigos que serviram como meus leitores-beta, aqueles primeiros leitores que tem a responsabilidade imensa de apontar o que pode melhorar no texto e na história.
4- Todos os personagens são profundos, eles têm histórias de vida que são abordadas no livro e ajudam a explicar o porquê de estarem em Auris, como esses personagens apareceram para você? Eles vieram prontos ou você precisou de tempo para entende-los?
Nada na escrita vem pronto. É preciso muito trabalho, pesquisa e ensaios para desenvolver um personagem, para começar a enxergá-lo. Foi assim que fui chegando perto deles, tentando entender quem eram, o que faziam, por que faziam. E envolve muita conversa com eles também. Parece papo de maluco, mas precisei conversar muito com meus personagens, especialmente com a Corina, para entender a motivação de cada um e para saber como eles gostariam de contar a história deles. E depois que o personagem realmente surge, não tem jeito, é ele quem manda e vai conduzindo o livro! Eles é que seguram o volante, eu fico apenas no banco do passageiro gritando AI MEU DEUS A GENTE VAI BATER!!
5- As Águas-Vivas Não Sabem de Si é um livro em que podemos encontrar várias metáforas que se aplicam no nosso dia a dia, você considera seu livro como uma história que tem uma mensagem maior do que a história de Corina?
O tamanho da história sempre cabe ao leitor decidir. Ele pode escolher navegar pela superfície da história, ou mergulhar nas metáforas que ela traz. Todo livro tem a profundidade que cada leitor escolhe pra si. Mas é parte indissociável do meu livro a mensagem de que fazemos parte de algo maior, o que com certeza chama a atenção para o fato que sim, é uma história maior e que vai muito além da história de Corina. É a jornada dela, mas pode ser a de todos nós e a de toda vida do nosso planeta. Depende da leitura que cada pessoa fizer da história.
6- O livro tem descrições muito boas, seja da pressão de estar em baixo da água ou mesmo do ambiente em que os animais vivem. Foi difícil recriar esse ambiente e essas sensações no livro?
Sem dúvidas! O fundo do mar é um mundo que nunca visitei presencialmente; só com a imaginação. Então recriar esse ambiente e as sensações de mergulhar dependeu de pesquisar muito, ler bastante, conversar com quem já esteve lá embaixo. Mas disso nem posso reclamar, porque eu realmente amo pesquisar! E escrever sobre o fundo do mar, a sensação de pressão sob a água, os animais que habitam as profundezas, foi a forma que encontrei de visitar esse mundo.
7- Vi que você já escreveu alguns livros de contos, decidiu escrever o livro por que a ideia apareceu ou isso sempre foi algo que quis fazer?
Não costumo pensar nesses termos; o que sempre penso é na história que quero contar. Às vezes essa história vai vir como um conto, às vezes como um romance. Gosto de narrativas curtas, mas como foi o caso de Águas-vivas, eu precisava desenvolver uma narrativa mais longa para dar conta dos temas complexos que a história e os personagens exigiam.
8- Seu blog é repleto de conteúdo e eu fiquei encantada com os textos e principalmente com as Bobagens Imperdíveis, pode falar um pouco sobre o projeto?
Bobagens Imperdíveis é uma newsletter que envio periodicamente para meus leitores com alguns textos exclusivos que não publico em nenhum outro lugar; só lê quem os recebe por e-mail. Além de eventualmente mandar textos de ficção, escrevo sobre os mais variados temas que acho interessantes, falo de literatura, do meu trabalho, de filmes, séries, artes, ciências. Já é o terceiro ano da newsletter, que passou das 110 edições, e qualquer pessoa pode assinar; é grátis e feita com muito amor.
Espero que tenham gostado do post de hoje! Confiram também nossa resenha sobre As Águas-Vivas Não Sabem de Si.
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